The vOICe Manual de Treinamento
16 nov 2014
Tradução
de Inglês: Marcelo Cândido de Oliveira Junior
Organização:
Michel Hospital
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Word com MP3: manual_pt_br.zip.
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a difference? Set up a vision training
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Tabela de conteúdos:
The vOICe Manual de Treinamento
2 Princípios
de mapeamento da imagem para o som
2.1 Exemplos de imagens com ondas sonoras
4. Interpretando a distância e o tamanho
4.1 Mudanças aparentes no tamanho com a distância
4.2. Outras pistas sobre distância e tamanho:
paralaxe e oclusão
Pessoas que enxergam, muitas vezes, tomam a
visão como um direito, porque este sentido para elas parece ser algo muito fácil
de acontecer. No entanto, a visão é, de fato, uma habilidade altamente complexa
que ainda derrota em larga escala os esforços computacionais para o
reconhecimento de objetos em situações reais, e a neurociência tem mostrado que
em pessoas que enxergam grande parte de seus cérebros está direta ou
indiretamente envolvida no processamento de insumo dos olhos. Além do mais, a
visão é inerentemente ambígua e requer conhecimento do mundo, conhecimento
contextual e extensiva experiência visual para que se possa, com segurança, ter
desfeitas as ambiguidades das informações visuais típicas do ambiente. A
tecnologia de substituição sensorial The vOICe converte visões visuais
puras em ondas sonoras correspondentes enquanto ainda preserva o significado da
informação visual total. Tecnicamente, isso permite ao usuário ver com o som,
mas o cérebro precisa primeiro aprender a decodificar as ondas sonoras em
termos com significados visuais. Isso leva tempo e treinamento, porque essa
habilidade é completamente nova para o cérebro. O propósito deste manual é providenciar ao usuário um conjunto de exercícios e
diretrizes que o ajudem a adquirir as habilidades básicas necessárias para
compreender informações visuais codificadas em sons. A partir de então, é
apenas por meio de uso imersivo e extensivo do The vOICe em situações
reais que o usuário poderá aprimorar sua habilidade de ver com o som, de forma
que isso se torne parte de sua natureza enfim. Dessa maneira, esta nova
habilidade pode ser comparada ao ato de se adquirir fluência em uma língua
estrangeira, onde se aprende uma nova gramática e um novo vocabulário para
formar uma base sólida, sendo, consequentemente, necessário cada vez menos
esforço para fazer uso desta língua, usando-a inconscientemente ao longo dos
anos. Portanto, o mesmo processo de aquisição de linguagem se aplica ao The
vOICe. A prática leva à perfeição, mesmo que o processo possa ser lento às
vezes.
Detalhes técnicos
que são específicos à versão do The vOICe
que roda em um sistema operacional em particular (ex:
Microsoft Windows, Android ou iOS) ou para conjuntos de hardware específico (ex: óculos-câmera, smartphone ou óculos de realidade
aumentada) são omitidos neste manual, estando o foco deste inteiramente em
aprender a interpretar as ondas sonoras e os princípios aplicados a todas as
implementações do The vOICe em software e hardware. Por favor, dirija-se ao site seeingwithsound.com para
detalhes de implementações e erratas, como, por exemplo, o software The vOICe Learning Edition e óculos-câmera para
dispositivos que rodam o Microsoft Windows e The vOICe para Android para smartphones e óculos de realidade
aumentada que rodam o Android. O foco deste manual está, também, nas
habilidades da visão relevantes para visão ambulatorial (movendo-se com o apoio
da navegação baseada na visão, detecção de obstáculos, bem como para alcançar e
agarrar objetos). O foco não está em nenhum outro uso mais específico, como,
por exemplo, ler as manchetes do jornal, placas, ler gráficos ou mapas da
previsão do tempo. Para humanos que enxergam existe um número quase ilimitado
de situações para se utilizar a visão, porém neste manual é traçada uma linha
nas habilidades centrais que envolvem a visão, habilidades que na verdade não
são únicas dos humanos, mas que são essenciais para a sobrevivência no reino
animal como um todo. Após adquirir estas habilidades centrais o usuário terá se
tornado mais independente em atividades que possam ser importantes em situações
pessoais, de interesse particular ou de trabalho.
Se o usuário não for completamente cego, deverá
se vendar ou, no caso de usar o óculos-câmera, adicionar às lentes escuras uma
fita preta para que fiquem completamente opacas, para que dessa forma o usuário
não possa se utilizar de nenhum campo de visão ocular durante os exercícios.
Complementando, não deve ser realizado nenhum tipo de eco-localização
durante os exercícios. É claro que, uma vez que o usuário tenha dominado todos
os exercícios, ele poderá e deverá voltar a fazer uso de qualquer campo visual residual
ou eco-localizador.
A respeito do volume do áudio, não se deve
permitir que ondas sonoras altas cansem ou irritem o usuário. Use o volume mais
suave e adequado para o usuário, pois se aprende melhor quando se mantém uma
atenção ativa em notas de áudio sutis. É possível desenvolver uma sensibilidade
ainda maior para o som, de forma que é preferível usar volumes bem modestos,
pois ao usar volumes baixos minimizam-se as distorções não lineares, como,
também, os danos à audição em longo prazo.
Existem apenas 3 leis simples no
mapeamento de imagem para som no The
vOICe, cada lei trata e um aspecto fundamental da visão: a lei 1 trata a
respeito das direções esquerda e direita, a lei 2 trata das direções acima e
abaixo e a lei 3 trata a respeito de escuro e claro. A seguir estão os detalhes
de cada lei:
A imagem captada pela câmera é
codificada em som por meio de um escaneamento feito da esquerda para a direita.
A configuração padrão é a de que o escâner tire uma "foto" a cada
segundo. Para identificar mais facilmente o escâner, o usuário ouve o som
estéreo de um beep da esquerda para a
direita. Ou seja, ouvir algum som à esquerda ou à direita do usuário significa
que há uma configuração visual à esquerda ou direita dele.
Durante cada escaneamento, sons
agudos dão a noção de elevação: quanto mais agudo o som, mais alta a posição do
conjunto visual respectivo na imagem. Consequentemente, se o som se torna fica
mais agudo ou mais grave, ocorre uma elevação ou queda do conjunto visual,
respectivamente.
Altura significa iluminação: quanto
mais alto o som, mais clara será a imagem. Consequentemente, silêncio indica o
preto e um som muito alto indica o branco, qualquer volume entre os dois são
tonalidades de cinza.
Em outras palavras, o The vOICe escaneia a imagem da esquerda
para a direita, associando a altura com quão agudo é o som e a claridade com o
volume. Outra forma de descrever o mapeamento é o de que cada imagem é escaneada em fatias bem finas, iniciando com uma fatia
vertical ressoando do lado esquerdo do usuário e terminando com uma fatia
vertical ressoando do lado direito. A cada momento, o som gerado depende do
conteúdo visual da fatia visual atual, com tons mais agudos para pixels claros
em posições mais altas. O mapeamento descrito é universal e pode representar
qualquer imagem em escalas de cinza. Imagens como fotografias tiradas por uma
câmera são fundamentalmente bidimensionais e não representam a distância
explicitamente, no entanto, mais para frente na seção "Interpretando a distância e o tamanho" nós discutiremos como obter e
interpretar marcas de distância usando o The
vOICe.
A forma mais fácil e rápida para se compreender
os princípios do mapeamento de imagem em som ocorre através da consideração de
alguns exemplos de imagens. Inicialmente, considera-se a descrição visual da
imagem, passando para a análise de como a imagem deveria soar e, finalmente,
ouvindo algumas amostras sonoras das imagens:
As imagens anexadas acima são links para
arquivos de som MP3 com os conjuntos sonoros respectivos, assim, ao clicar
segurando CTRL (CTRL+click) sobre a imagem ocorrerá o
toque do conjunto sonoro dela (na versão online deste documento o usuário
poderá apenas clicar sobre as imagens). Note que para o Windows Media Player é
possível ligar o botão de repetição para ouvir os conjuntos sonoros
repetidamente da mesma forma como o The
vOICe faz quando o conteúdo da imagem não se altera. Isso pode auxiliar na
detecção de detalhes nos conjuntos sonoros que podem passar despercebidos se
ouvidos uma única vez.
Com o que foi apresentado acima, o usuário pode
começar a explorar como objetos na vida real se parecem (soam). Por exemplo,
coloque uma bengala branca sobre uma superfície negra e perceba como ela gera
um tom crescente ou decrescente, dependendo da posição em que foi colocada.
Algumas moedas em uma superfície negra geram alguns beeps
correspondentes às suas configurações. Tente o ritmo criado pelos livros em uma
prateleira ou o ritmo mais suave das dobras de uma cortina fechada. Perceba
como uma janela vista de dentro de um cômodo normalmente soa como um retângulo
claro preenchido, já que a iluminação vinda do lado de fora em geral é mais
forte. Na verdade, várias estruturas feitas pelo homem em um ambiente urbano
têm aparência retangular quando vistas de frente: não só as janelas, mas, também,
portas e prédios.
Quando ouvir um conjunto sonoro e analisar o
objeto por meio do toque ou outros meios para compreender o que este conjunto
representa, tente entender a razão pela qual o objeto soa daquela forma. Se há
um tom, talvez haja uma aresta. Se há um ritmo, talvez exista um conjunto
vertical. Se há um som suave, talvez haja uma superfície suave. Uma análise
consciente e racional irá ajudar o usuário a interpretar imagens que ele não é
capaz de reconhecer automaticamente, enquanto prestar atenção aos detalhes está
fazendo com que suas habilidades auditivas sejam afiadas. Seja sempre curioso e
ávido para aprender!
Uma das habilidades práticas mais importantes
para se dominar é a habilidade de alcançar e pegar um objeto. Usando o The vOICe este ato passa a ser possível
de ser feito visualmente, sem a necessidade de vasculhar ou tatear: o usuário
"vê" o objeto nos conjuntos sonoros e o pega
com um movimento direto. Para poder fazer isso, o usuário precisa primeiro
dominar a coordenação entre câmera e mãos, assim como pessoas que enxergam
possuem a coordenação de olhos e mãos. Isso significa que o usuário aprende a
perceber qual ponto no conjunto sonoro emitido corresponde a qual direção na
imagem, assim adquire as habilidades motoras necessárias para alcançar algo
naquela direção específica; com o tempo, o usuário o faz inconscientemente. A
descrição realizada nesta seção assume que o usuário está utilizando uma câmera
acoplada à cabeça, direcionada na mesma direção do nariz, porém os mesmos
procedimentos, com as alterações apropriadas, podem ser aplicados caso o
usuário segure a câmera com as mãos - como no caso de um smartphone. No entanto, uma câmera acoplada à cabeça,
preferivelmente por meio de óculos com câmera, fornece uma experiência visual
mais intuitiva e consistente e é altamente recomendada para o uso devido.
Os
pré-requisitos para praticar a alcançar e pegar objetos são:
Esteja sentado ao lado da mesa preta que está
sem qualquer coisa visualmente distrativa. Tenha certeza de que a iluminação
está adequada para "ver" os objetos selecionados quando colocados
sobre a superfície preta e verifique se a superfície preta parece vazia quando
não há objeto algum sobre ela (ou seja, se há silêncio ou um ruído suave do
conjunto sonoro emitido). A superfície preta serve como um fundo visual para
evitar desatenção, permitindo o usuário focar sua atenção nos objetos de
interesse e suas posições na visão da câmera.
Agora um dos objetos claros deve ser jogado
sobre a mesa sem que ele caia dela, caindo em algum local arbitrário
(aleatório) da mesa. Agora a tarefa do usuário é pegar este objeto sem tatear a
mesa com as mãos. Então é necessário localizar o objeto visualmente e depois
alcançá-lo e pegá-lo com a mão. A forma mais confiável de se realizar esta
tarefa é centrando o objeto na vista do usuário (câmera) e só então pegá-lo.
Para fazer isso, o usuário deve primeiro por o objeto dentro do alcance de visão da câmera olhando
ao redor, caso já não esteja visível para a câmera. Um pequeno objeto claro soa
como um beep. Uma vez que o usuário
ouvir o beep, ele deve centrá-lo no
campo de visão da câmera (verticalmente e horizontalmente). Então o objeto está
localizado bem à frente, na mesma direção do nariz. Um objeto está no centro de
uma visão sonora (por meio de conjuntos de som) quando ele soa a meio caminho
da esquerda para a direita e com um tom de agudez média. Este alinhamento
central será agora descrito com mais detalhes.
Para o alinhamento vertical é necessário
inclinar a cabeça para cima e para baixo até que o beep
do objeto fique em uma agudez média (nem agudo, nem grave). Em seguida,
enquanto mantém esta agudez, o usuário deve virar sua cabeça para a esquerda e
para a direita até que o beep
soe meio segundo depois do início do conjunto sonoro, ou seja, no meio
horizontal de cada escaneamento do conjunto sonoro. A direção da qual o som do
objeto vem será bem à frente e não à esquerda ou à direita do usuário. Então é
possível alcançar e pegar o objeto, imaginando que está na direção do seu
nariz. (Caso o usuário esteja segurando a câmera com a mão, ele deve imaginar o
campo visual da câmera a partir de onde ele a segura.)
No começo do treinamento é bem normal se sentir desnorteado, mas depois de apenas algumas
horas de prática o usuário já deve ser capaz de agarrar o objeto na maioria das
vezes. Pratique este exercício até que se torne uma ação fluente que possa ser
repetida com facilidade. O usuário pode, também, ao mesmo tempo, tentar
visualizar o objeto que ele está procurando de forma a enfatizar a natureza
visual de suas ações. Tente evitar o antigo hábito de tatear a mesa com as mãos
para localizar o objeto (é claro que uma correção rápida de alguns centímetros
não tem problema). O objetivo é realmente poder agarrar o objeto localizado e
isso é completamente fazível por meio da prática. Aprender a coordenação entre
câmera e mão (câmera/mão) pode ocorrer de forma rápida, pois é possível jogar e
agarrar uma peça de LEGO DUPLO a cada cinco segundos mais ou menos, o que resulta
em por volta de duzentas tentativas em apenas 15 minutos.
Além do mais, o usuário irá perceber que é
realmente fácil dizer qual a direção da peça LEGO DUPLO pela velocidade com que
a agudez cresce ou decresce, mesmo que isso leve uma fração de segundo. Pode
ser muito mais difícil deduzir isto caso a peça caia de ponta cabeça ou de
lado, porém as oito elevações da parte de cima da peça e seus sulcos diagonais na
parte de baixo fornecem uma textura sonora característica que contribui para o
realismo da "visão".
Uma vez que o exercício acima foi dominado, o
usuário pode abrir mão da necessidade de centrar um objeto em seu campo de
visão para pegá-lo diretamente mesmo que esteja fora do centro da visão, sendo
guiado pela agudez e pela direção de onde vem o som do objeto. Isso é um pouco
mais difícil, porém mais eficiente, uma vez que o usuário pode pegar o objeto a
partir do primeiro conjunto sonoro que ouvir do objeto, isso se dá por volta de
um segundo. Alcançar e pegar um objeto sem ter de centrá-lo é, portanto, a
forma preferível de trabalhar, mas o usuário deve apenas passar para esta etapa
uma vez que ele já dominar a habilidade de centrar o objeto em seu campo de
visão.
O próximo estágio é estender o exercício de
pegar um objeto, jogando duas ou três peças de LEGO DUPLO sobre a mesa e,
depois, pegando-as sem ter de centralizar cada uma no campo de visão. Dessa
forma, o usuário pode pegar múltiplos objetos com muita eficiência a partir de
uma única visão sonora. Aqui também é como dominar uma língua estrangeira, onde
se domina primeiro a aplicação consciente de regras gramaticais rígidas, sendo
depois possível "esquecer" da aplicação consciente destas regras já
que tudo ficou automático e fluente, pois a aplicação consciente a partir de
então iria apenas atrasar o falante. Na verdade, em algum momento é necessário
pular a análise consciente para se tornar fluente. Por analogia, nenhum humano
pode andar de bicicleta pensando em qual momento se deve pedalar o pedal
direito ou o esquerdo: ele simplesmente cairia. Habilidades motoras-sensoriais
devem se tornar em grande parte inconscientes e automáticas para que se possa
dar atenção consciente ao que é importante.
Uma vez que o
usuário pode realizar o exercício de pegar objetos sobre a mesa com facilidade
razoável, ele pode começar a treinar para situações de maior mobilidade - mas
sempre em um ambiente seguro. Iniciando-se de uma posição de alguns metros de
distância da mesa, centralize o objeto em seu campo de visão e ande em direção
a ele sem descentralizá-lo. Perceba que será necessário inclinar-se para que o
objeto não saia do campo de visão. Finalmente, agarre-o quando estiver perto o
suficiente (quando o objeto preencher uma fatia razoável de seu campo de
visão). Para conquistar fluência máxima e estimular sua avidez para se tornar
excelente, pense como se você fosse um predador rastreando e perseguindo sua
presa. Inicialmente o objeto irá soar como um beep fraco, pois ainda está
distante, mas sua sonoridade será mais pronunciada conforme você se aproximar e
o objeto ficar "maior", como demonstrado pelo vídeo com
cinco conjuntos sonoros.
Para fazer o exercício se parecer com situações
diárias, você pode colocar uma caneca branca ou um prato no lugar da peça LEGO
DUPLO. Pode parecer muito elementar tentar pegar um único objeto, mas é muito
importante acertar o básico primeiro, pois também trará a confiança de que é
possível fazer bom uso de alguns aspectos específicos de sons visuais
extremamente complexos. Isto também faz parte de muitos outros comportamentos e
cenários complexos de situações de mobilidade que serão apenas dominados se o
usuário dominar este conjunto inicial de habilidades. Alcançar a maçaneta de
uma porta é outra aplicação imediata e prática destas habilidades. Pegar
diretamente um objeto sem ter de tatear com as mãos é outra coisa que não seria
possível sem alguma forma de visão.
Inicialmente pratique o exercício de pegar um
único objeto por meia hora ao dia, por pelo menos duas semanas. Isso irá fornecer uma coordenação
câmera/mão descente para começar a ser aplicada na vida diária. A longo prazo o
usuário irá ficar muito melhor nisso, mas existe um nível mínimo de habilidade
que é necessário alcançar antes que se possa beneficiar do The vOICe.
Uma vez que o usuário tenha dominado
completamente este exercício, ele será capaz de alcançar e pegar qualquer
objeto dentro de seu alcance que tenha contraste visual suficiente, seja ele
uma caneca, uma maçaneta, uma moeda ou sua bengala.
Imagens não
representam de forma explícita a distância e o tamanho dos objetos, mas podem
representar um número de pistas visuais indiretas para distância e tamanho que
podem ser aprendidas para se explorar.
A dica mais poderosa e comum para relacionar
distância e tamanho é como o objeto muda em seu tamanho aparente conforme você
se movimenta para frente e para trás. Aqui uma regra bem simples de perspectiva
visual se aplica: um objeto situado à metade da distância inicial parece
ter dobrado de tamanho. Isso significa que se um objeto já estava perto
e já preenchia uma boa parte da sua visão, ele irá preencher uma parte muito
maior da sua visão caso você se aproxime dele, até porque não se precisa andar
muito para diminuir a distância pela metade quando já se está próximo do objeto.
Igualmente, se o objeto preenche uma grande parte da sua visão e sua distância
até ele é pequena, o tamanho físico do objeto é
comparável à distância física (forneça ou retire um fator de dois para uma
típica visão de câmera com ângulo entre 50 e 120 graus). Um objeto com largura
ou altura física de meio metro irá preencher sua visão a uma distância de um
braço. No entanto, um objeto muito maior irá preencher sua visão a uma
distância bem maior, então o tamanho aparente em seu campo de visão não é o suficiente
para saber dizer as distâncias.
Se você se sentar ao lado da mesa preta e
colocar uma caneca branca sobre ela ao alcance das suas mãos, a caneca ficará
claramente maior se você se inclinar para frente ou se trouxer a caneca para
mais perto. Por outro lado, no caso de um objeto distante, como um prédio, não
importa quão grande ele apareça na sua vista, ele praticamente não irá mudar de
tamanho aparente se você der apenas alguns passos para frente. Por causa da
distância maior serão necessários vários passos para diminuir esta distância
pela metade e fazer com que o prédio dobre de tamanho na sua vista. Portanto,
julgando o quanto o tamanho aparente muda conforme você se aproxima ou
se afasta do objeto, você pode julgar qual a distância física entre você e o
objeto. Tenha em mente (e esteja completamente consciente disto) que o
tamanho aparente por si só não diz nada sobre a distância: um prédio a
cinquenta metros de distância pode ter a mesma aparência retangular de uma
porta a cinco metros de distância, neste caso o prédio é 10 vezes mais alto e
mais largo fisicamente que a porta. Então você nunca pode julgar com segurança
a distância a partir de um único ponto de vista estacionário (a não ser que
você reconheça o objeto e saiba seu tamanho físico para poder relacionar o
tamanho aparente com o tamanho físico [real], mas isso é muito mais difícil de
se dominar do que o método que descrevemos aqui). Você realmente precisa se
mover para poder julgar as distância com segurança.
Este é um aspecto conhecido como "visão ativa", porque movendo-se
você obtém mais informações do que ficando parado, e isso se aplica em
particular para informações sobre distância e tamanho.
Isso se apresenta como um método poderoso para
usar em ambas as situações de detecção de obstáculos e navegação. Se um objeto
estático fica significativamente maior após alguns passos, ele deve estar
próximo e, portanto, pode ser um obstáculo em potencial que você vai querer
desviar ou, ao menos, antecipar antes de tocá-lo com sua bengala. Por outro
lado, se um objeto estático quase não muda seu tamanho aparente depois de
alguns passos, ele está distante e, portanto, pode ser um referencial que você
pode utilizar para navegação, por exemplo, para seguir em uma rota desejada,
como será discutido na seção de "Referenciais
visuais".
O que foi dito acima também se aplica para
faixas verticais igualmente espaçadas. Quando o ritmo associado se torna duas
vezes mais lento ao dar um passo à frente, então as faixas devem estar bem
perto, como, por exemplo, uma prateleira de livros a distância de um braço,
enquanto se há uma mudança apenas modesta no ritmo após alguns passos, pode ser
que haja uma cerca a uns dez metros de distância.
Agora pratique esta pista sobre distâncias
exaustivamente com objetos de vários tamanhos e a várias distâncias. Os efeitos
são frequentemente muito sutis e no início é necessário muito esforço
consciente para não "deixar passar" alguns padrões visuais crescentes
que estão muitas vezes misturados à cacofonia complexa de sons do conjunto
sonoro típico. Pistas sutis facilmente se perdem entre outros sinais menos
sutis até que você aprenda a "dar ouvidos" aos detalhes que são
importantes para você. Quando você ficar melhor em perceber mudanças aparentes,
terá grandes benefícios para sua habilidade de se locomover, evitar obstáculos
enquanto marca vários referenciais que estão mais distantes. Entender os
princípios não é o suficiente. Você deve praticá-los diariamente por ao menos
10 minutos.
Inicialmente pratique a percepção às mudanças
no tamanho aparente ao se aproximar e se distanciar por meia hora diariamente,
por ao menos duas semanas. Juntamente com o exercício de alcançar e pegar, ao todo será uma hora
de treinamento diário, por ao menos duas semanas. Depois disso, você pode
cortar a duração dos exercícios para trinta minutos diários, sendo quinze para
o exercício de alcançar e pegar e quinze para interpretar a distância e o
tamanho conforme você se aproxima e se afasta de vários objetos a várias
distâncias. A partir de então você gasta meia hora de prática diária, o que é
considerado o mínimo para se obter um bom progresso, assim como é necessário
praticar ao menos meia hora por dia para ter um bom progresso no domínio de um
instrumento musical ou de uma língua estrangeira. Você deve manter este nível
de treinamento por pelo menos um ano. É claro que é uma questão de equilíbrio:
para se tornar um pianista de concertos são exigidas horas de treino diário com
o seu instrumento musical, mas não se pode esperar isso de todas as pessoas por
causa dos vários outros compromissos sociais e de trabalho. Você certamente
pode atingir um nível descente com meia hora de prática diária, se você assim o
fizer com bom foco e interesse ativo e contínuo em melhorar suas habilidades
visuais.
Além das indicações de distância que você consegue ao
andar para frente e para trás, você pode obter indicações de distância ao
mover-se para os lados, por meio de um fenômeno denominado paralaxe visual.
Outro efeito visual é que tudo o que está por trás de um objeto a partir do seu
ponto de vista aparece escondido através do que denominamos como oclusão
visual. Pistas ainda mais sutis e implícitas são fornecidas por sombras e
sombreamentos, embora do último normalmente não irá oferecer pistas sobre a
distância efetivamente para o uso com o The
vOICe. Paralaxe e oclusão podem ainda ser muito úteis em suplementar as
pistas de distância como serão discutidas na seção "Mudanças no tamanhão aparente
conforme a distância".
Paralaxe Visual.
Ao andar de lado os
objetos na sua vista parecem se mover na direção oposta, mas a quantidade de
deslocamento aparente depende da distância. Um fundo distante não parece se
mover e o deslocamento aparente de objetos próximos (em primeiro plano) em
relação a um fundo distante indica que estes objetos estão de fato mais
próximos que o fundo. Categorizar os objetos pela quantidade de deslocamento
fornece uma ordem (sequência) de distâncias dos objetos.
Para prática
inicial, fique de pé em frente a um poste com algum tipo de padrão visual em um
fundo mais distante (prédio, por exemplo) e perceba como os conjuntos sonoros
mudam conforme você dá um passo para o lado e volta. Se você fizer isso
corretamente, ou seja, sem se virar ao mesmo tempo em que anda, você vai
perceber que a aparência do fundo se mantém a mesma enquanto o poste se move na
direção oposta a do seu
passo. Além do mais, quando o poste estiver mais longe parecerá que se moveu
menos. Se o fundo parece se mover também então você acidentalmente está se
virando um pouco, e vice-versa: ao manter o fundo constante na sua vista você
garante que não mudou de direção.
Oclusão visual.
A não ser que um
objeto seja transparente, como o vidro, não é possível ver o que está
diretamente atrás dele: o que está atrás do objeto está ocluído (tapado). Isso
faz com que objetos mais distantes e partes do fundo fiquem parcialmente ou
completamente escondidos. Associado com a paralaxe visual, isto faz com estes
objetos escondidos apareçam quando realizados movimentos laterais.
Sombreamento.
O ângulo que uma
superfície faz com a direção da fonte de luz afeta a iluminação aparente da luz
refletida. Um objeto como uma esfera, que está curvada em sua direção, irá,
portanto, mostrar uma variação específica da iluminação através da superfície
que depende de seu formato tridimensional, fornecendo pistas sobre sua
distância (e forma). É difícil criar regras explícitas para isso: é algo que se
aprende por meio de longa experiência com vários tipos de objetos e sua
aparência visual sob condições de iluminação variadas.
Sombras.
A luz originada de
uma fonte de luz direcional pode ser ocluída (bloqueada) por objetos, fazendo
com que superfícies atrás do objeto pareçam mais escuras. Estas áreas mais
escuras são chamadas de sombras lançadas por objetos. Assim como com o
sombreamento, as sombras dos objetos dão informações implícitas sobre a
localização tridimensional dos objetos no ambiente e, dessa forma, fornecem
pistas suplementares sobre distâncias (e formas).
Um efeito de perspectiva visual que você talvez
já tenha aprendido no contexto de interpretar distância e tamanho, ou seja, que
um objeto parece ter o dobro de seu tamanho à metade da distância. No entanto,
este efeito tem uma gama de consequências relacionadas a ele. Por exemplo,
quando se olha para uma estrada ao longo de seu caminho, a estrada parece duas
vezes mais estreita ao dobro da distância, se for uma distância muito grande,
então a largura da estrada desaparece de tão pequena. É por isso que as pessoas
às vezes falam sobre os chamados pontos de fuga. Estes fazem com que uma
estrada reta longa se pareça com um triângulo de pé, onde o canto superior
corresponde ao ponto de fuga. Se há filas de prédios alinhados em ambos os
lados da estrada, isso gera um ritmo de conjuntos sonoros da esquerda para a
direita no escâner, que inicialmente acelera conforme a fileira de prédios é
traçada à distância em direção ao ponto de fuga e, em seguida, desacelera
conforme a fila de prédios do lado direito da estrada é traçada, até que o
conjunto sonoro se finalize com os prédios próximos. Então o ritmo fica mais
rápido a distâncias maiores e mais lento a distâncias menores e como os prédios
são razoavelmente comparáveis em tamanho e formato físicos, isso também pode
fornecer pistas sobre a distância se você já sabe que está na estrada. Agora,
isso não é facilmente aplicado como um exercício de treinamento, então, ao
invés disso, olharemos para efeitos similares da perspectiva visual quando
olhamos para um teclado de computador. Pegue um teclado de computador comum
para usar neste próximo exercício e olhe para ele pelo lado de cima.
As fileiras de teclas no teclado geram um ritmo
característico. Este ritmo desacelera se a câmera se mover para mais perto do
teclado e acelera conforme a distância aumenta, assim como no exemplo anterior
da prateleira de livros. Isso ocorre porque itens visuais parecem maiores a
curta distância, de forma que menos teclas cabem dentro do campo de visão.
Agora olhe para o teclado com certo ângulo (parcialmente virado). Você vai
perceber que o ritmo acelera ou desacelera em uma única visão sonora, porque as
partes mais distantes do teclado têm um ritmo mais rápido que as partes
próximas. Como, exatamente, esse ritmo acelera ou desacelera depende da
orientação do teclado em relação à câmera. Tente diferentes ângulos e distâncias
até você se familiarizar bem sobre como os conjuntos sonoros mudam com a
distância e a orientação.
Perceba que ao contrário a mesma coisa ocorre:
ao ouvir quão rápido o ritmo do teclado está e como ele acelera ou desacelera é
possível deduzir tanto a distância como a orientação. O mesmo efeito se aplica
às fileiras de prédios ao longo de uma estrada e às fileiras de janelas de cada
prédio, apesar de que nesse caso talvez seja necessário dar alguns passos até
que se consiga notar as diferenças no conjunto sonoro, pelo fato de as
distâncias serem maiores.
Padrões visuais característicos em um fundo
distante podem ser usados como um referencial visual. Por causa de suas
distâncias, referenciais mudam lentamente sua aparência visual conforme você
caminha. Eles podem ajudar a manter o rumo constante. Por exemplo, se você está
em um estacionamento aberto, manter o padrão de um prédio distante em uma
posição constante nos conjuntos sonoros funciona muito como uma bússola. Se o
padrão visual é único ele pode ajudar a saber onde você está ao longo de uma
rota, sem que você tenha de contar os passos. Algumas fachadas de prédios têm
pilares que fornecem um ritmo característico; outras podem ter um conjunto de
janelas diferente que se destaque dentre as outras; enquanto algumas lojas
podem ter o nome da loja em letras garrafais sobre a entrada. Afinal, muitas
empresas querem se sobressair e serem percebidas. Tente se lembrar que tipo de
coisas geram conjuntos sonoros característicos em seu ambiente, de forma que
com o tempo você saiba onde está ao longo de todas as posições de uma rota
familiar apenas olhando ao redor e percebendo os padrões que são mais ou menos
distintos naquela posição ao longo do caminho. Talvez isso não irá funcionar para
alguns quarteirões da cidade onde tudo é parecido.
Como
destacado nas seções precedentes, sua agenda de treinamento mínima está como
segue.
Semanas 1 e
2:
-
30 minutos de treinamento diário em
"Alcançar e Pegar".
-
30 minutos de treinamento diário em
"Interpretando distância e tamanho".
Semanas 3
em diante, por pelo menos um ano:
-
15 minutos de treinamento diário em
"Alcançar e Pegar".
-
15 minutos de treinamento diário em
"Interpretando distância e tamanho".
Tempo de treinamento adicional pode ser útil,
mas não exagere e não ultrapasse o dobro do tempo recomendado. No entanto, não
existe limite real para o tempo que você pode investir usando o The vOICe em suas atividades normais do
dia a dia, assim como os que enxergam usam seus olhos o dia todo. Obrigações
sociais ou de trabalho são com frequência fatores limitantes que terão de ser
balanceados.
Especialmente no caso de autotreinamento,
é vital que você seja crítico sobre sua própria performance e se assegure de
que você alcance os níveis de performance desejados para possuir uma base
sólida para melhor uso do The vOICe.
Então, como você sabe se alcançou as metas deste manual de treinamento? Você
deve ser capaz de dizer para você mesmo os seguintes para alcançar a
performance desejada:
Lembre-se sempre que se você ainda realiza
tarefas visuais básicas lentamente após treinar, você não está fazendo certo:
você deve ser capaz de realizá-las tão rápido quanto os que as enxergam as
fazem. Se obrigue a ser mais rápido ou você poderá ficar travado em uma
velocidade lenta de análise consciente e poderá não alcançar todo o seu
potencial (ou o potencial do The vOICe).